Museu Verde Gaio – Lordosa

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Paisagens

lordosa, freguesia rural

O conceito de paisagem pode ter várias conotações, dependendo daquilo que se quer observar e aprofundar, o mesmo acontece com os elementos que constituem a paisagem, são limitados, mas muito vastos e, apesar destes elementos poderem estar associados a diferentes paisagens, nunca existirão duas paisagens iguais.

A Convenção Europeia da Paisagem, assinada em outubro de 2000 por Portugal e pelos restantes membros do Conselho da Europa, define, no seu Artigo 1.º, que paisagem “designa uma parte do território, tal como é apreendida pelas populações, cujo carácter resulta da ação e da interação de fatores naturais e/ou humanos” (EPDTR, 2009).

A paisagem desempenha funções importantes de interesse público no âmbito cultural, ecológico, ambiental, social e económico (sendo um recurso bastante favorável economicamente). Representa também uma componente do património cultural uma vez que permite a formação de culturas locais maximizando a qualidade de vida das populações.

Foi a população rural que, em Portugal, contribuiu maioritariamente para a modificação destas paisagens, através da exploração dos recursos da natureza.


“A evolução das técnicas de produção agrícola, florestal, industrial e mineira e das técnicas nos domínios do ordenamento do território, do urbanismo, dos transportes, das infraestruturas, do turismo e lazer e, de um modo mais geral, as alterações na economia mundial, estão, em muitos casos, a acelerar a transformação das paisagens. Importa reter que identificar o património rural de um território começa pela interpretação da paisagem, dando particular atenção à observação dos seus aspetos dominantes. É necessário assinalar os diversos elementos que o compõem, localizá-los e datá-los, para se proceder ao seu estudo e inventariação.” (EPDTR, 2009, p.23).


Lordosa é uma freguesia predominantemente rural, tendo a sua paisagem marcada por uso agrícola e florestal, pontilhada por alguns núcleos populacionais. Insere-se na unidade de paisagem do Alto Paiva e Vouga, caracterizada por “uma sucessão de longas encostas, de declive moderado a acentuado, vales fundos e por vezes encaixados, e por um verde-escuro dominante, frondoso, repleto de água” – DGT (2004).


As encostas são dominadas por matas, maioritariamente de pinheiro-bravo, mas em zonas de declive menos acentuado, os usos florestais misturam-se com a agricultura. Nesta procura de poder cultivar nos terrenos mais férteis junto ao rio Vouga, procedeu-se ao processo de nivelamento e criação de pequenos terraços nos terrenos mais inclinados do vale do rio. Esta forma de cultivo, chamada também de cultivo em socalcos, é uma técnica de preparação do solo que além de aumentar o terreno cultivável, permite aproveitar o escoamento das águas para rega, e consequente redução da erosão hídrica. Em geral os socalcos estendem-se até meia encosta, sendo a restante ocupada pelos povoamentos florestais. São uma intervenção humana na paisagem muito característica e que confere uma certa identidade à paisagem. Esta mistura de usos cria um interessante mosaico na paisagem (DGT, 2004).

Socalcos junto ao rio Vouga

tipos de paisagem

Explore os diferentes tipos de paisagem que acompanham a extensão de Lordosa.

As culturas agrícolas em Lordosa são a base para os produtos produzidos, consumidos e comercializados nesta freguesia, sendo ainda a atividade agrícola uma das principais atividades desta freguesia, é das culturas que a maioria da população se ocupa. No passado esta agricultura era praticada como um modo de subsistência. Segundo a COS (2018), informação recolhida por deteção remota, a área ocupada para usos relacionados com a agricultura é de 456,86ha, ou seja, cerca de 20,5% da área total da freguesia.

No que toca às explorações agrícolas com maior detalhe, nos recenseamentos agrícolas do INE verifica-se o decréscimo da SAU e de matas e florestas sem culturas ao longo dos anos.

Repare-se ainda que em Lordosa, a superfície agrícola utilizada média por exploração, de 1989 a 2019, mantém-se sempre abaixo dos 1,7ha, um valor muito mais reduzido do que a média de Portugal, do Centro e até do próprio concelho de Viseu.

De seguida, é importante distinguir os tipos de culturas. As explorações de culturas temporárias são “aquelas cujo ciclo vegetativo não excede um ano (anuais) e as que não sendo anuais são ressemeadas com intervalos que não excedem os 5 anos”, por outro lado as culturas permanentes “ocupam o solo durante um longo período e fornecem repetidas colheitas (excluem-se as pastagens permanentes)”. Existe ainda a classificação de horta familiar, “uma superfície, normalmente inferior a 20 ares (0,2ha), reservada pelo produtor para a cultura de produtos hortícolas ou frutos destinados ao auto- consumo” (Duarte, 2009).

As pastagens permanentes correspondem às “superfícies com culturas espontâneas ou semeadas destinadas à alimentação do gado geralmente por ingestão no próprio local e que ocupam o solo por um período superior a 5 ou mais anos”. Além destas, as áreas de pousio correspondem a áreas agrícolas não cultivadas, com o objetivo de aumentar a sua produtividade futura.

A superfície agrícola de Lordosa baseava-se numa prática agrícola de subsistência, com predominância de minifúndio com cultura intensiva. O minifúndio é aqui exponenciado pelo elevado número de herdeiros de cada família, fruto das elevadas taxas de natalidade, e do facto de que a terra era a principal fonte de sustento da população (Pinheiro da Silva, 2000).

Segundo os dados dos recenseamentos agrícolas, em 1989 existia uma grande predominância das culturas temporárias, com cerca de 418ha. Contudo, verifica-se redução para uma fração mínima nos hectares deste tipo de cultura, para 4ha em 2019. As terras em pousio desapareceram e existiu um aumento especialmente de pastagens permanentes (12ha para 76ha) e culturas permanentes (26ha para 42ha).

Segundo o primeiro recenseamento agrícola disponível ao nível da freguesia, de 1989, a freguesia de Lordosa contava com quase 300 explorações agrícolas, número que até 2019 veio a diminuir para menos de 100. Embora o número de explorações tenha diminuído, como se verificou anteriormente, isso não significou um aumento na média da superfície agrícola utilizada.

As explorações agrícolas com culturas temporárias em Lordosa eram maioritariamente de culturas forrageiras (culturas para alimentação do gado), cereais, leguminosas e batata. Em relação aos cereais, as culturas eram em número muito destacado de milho e também de centeio, em menor expressão havia exploração de trigo, aveia e cevada. Como é possível verificar pela diminuição do número de explorações, Lordosa verifica nas últimas décadas uma redução acentuada do número de explorações, que reforça a tendência geral de abandono da agricultura.

As culturas permanentes nesta freguesia eram principalmente de vinha. Nas últimas décadas, aumentaram em número as explorações de olival e de frutos frescos, ao contrário das de vinha, que diminuíram bastante.

A floresta é um património material com importância para a paisagem e economia da freguesia. Em 1995, a área de floresta em Lordosa era de cerca de 1258ha (12,58km2). Em 2018 este valor aumenta para 1537,95ha (15,37km2) ou seja, quase 70% da área total da freguesia (22,3km2). Este aumento do uso como área florestal decorre também do abandono da atividade agrícola, para um uso de silvicultura.

No mesmo ano de 1995, a área florestal é em grande maioria dominada pela presença do pinheiro-bravo (1146,9ha), sendo cerca de 91% da área florestal freguesia. Esta é a árvore resinosa a partir da qual se procedeu à exploração da resina por parte dos habitantes da freguesia, normalmente como atividade complementar à agricultura. Além disso pode-se encontrar castanheiros (37,14ha/ ~3%) e carvalhos (10,46ha/ ~1%), entre outras folhosas (63,85ha/ ~1%). Já em 2018, a área de pinheiro-bravo aumenta para 1206,12ha, mas a sua representatividade na freguesia reduz para cerca de 78%, que agora possui maior área de castanheiros (187,1ha), aumentando para cerca de 12% da área florestal. Também aumenta a área de carvalho (108,55ha / ~7%), mantém-se a presença de algumas outras folhosas (33,43 / ~2%) e surge um número reduzido de outras resinosas (10,46ha / 0,18%).

Além da resina, a exploração de outros produtos como a lenha tinha e tem alguma expressão na economia. Face à vasta área de árvores resinosas, conjugadas com o abandono da agricultura e falta de limpeza das florestas, com vista à preservação deste património material natural é de importância ressaltar o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios de Viseu, com vista à sua gestão e manutenção e, sobretudo, redução da vulnerabilidade da floresta e da perigosidade de incêndio rural.

 

As áreas dedicadas às pastagens representavam, em 1995, cerca de 207.2ha da área total da freguesia. Mais recentemente, considerando a classificação de incultos (classe que agrega matos e pastagens) tal como enunciado na Carta de Ocupação do Solo, estas representam cerca de 90ha na freguesia, verificando-se uma acentuada diminuição desta ocupação, para menos de metade.

A riqueza dos pastos está intimamente ligada às possibilidades da pastorícia na freguesia. Considerando o efetivo animal da freguesia, a representatividade de gado ovino, embora decadente, mantém a sua representatividade, A partir da tosquia da lã destes animais, era vendida ou tratada e utilizada para a produção de capas, capuchos ou mantas e cobertores.

Lordosa tem uma relação muito próxima com o rio Vouga, situando-se na sua margem esquerda, dado que este atravessa esta freguesia no seu extremo norte, em toda a extensão da divisão com a freguesia de Calde. Este rio que corre no sentido nascente-poente atravessa Lordosa no seu percurso médio-alto, considerando as suas características de acidentação. O rio é uma importante peça que vem moldar o desenvolvimento do território, nomeadamente para a atividade agrícola, nos socalcos onde se vem a desenvolver atividade agrícola, e também no apoio às restantes atividades, tal como a da panificação, sendo no Vouga que se situam os moinhos de água onde os moleiros procedem à moagem dos cereais, e também no apoio à atividade de tecelagem, onde se procedem às atividades de tratamento da planta de linho e da lã.