Museu Verde Gaio – Lordosa

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Estruturas e lugares

vivências sociais rurais e características biofísicas de lordosa

Neste secção serão expostos todos os elementos referentes às estruturas e lugares existentes na freguesia, subcategorizados pelos elementos mais marcantes como os muros de pedra seca, sistemas de rega tradicional, tanques, fontes e chafarizes, lavadouros, poldras, ponte romana e a estrada romana.

tipos de estruturas e lugares

Explore os diferentes tipos de estruturas e lugares que acompanham a extensão de Lordosa.

A região de Viseu, à semelhança de outras em Portugal, é marcada por vastas práticas e estruturas tipicamente representativas das vivências sociais rurais e das características biofísicas da região. Exemplo disso são os muros de pedra seca, muito presentes nas diferentes comunidades que tinham e ainda têm a agricultura e pecuária como uma das suas principais atividades económicas locais.

Trata-se de estruturas com um elevado valor, quer para a preservação do património (associado à valorização que promovem na paisagem), para as próprias comunidades (associado às atividades agrícolas que reuniam muitas famílias), mas também para a preservação da biodiversidade.

São construções de pedra justaposta efetuadas pelo homem, sem recurso a quaisquer elementos de ligação, apenas a pedra local, geralmente o xisto ou o granito (ADVID, 2021) e estão colocados em diferentes locais, no caso de Lordosa é visível a sua presença a murar as típicas eiras e a murar habitações.

“Os muros de pedra seca são um dos sistemas mais sustentáveis do ponto de vista da conservação do solo, já que reduzem o risco de erosão, as perdas por escorrência superficial e deslizamentos, permitindo uma maior infiltração da água e o reabastecimento dos cursos de água.” (ADVID, 2021).

Existem três tipos de muro de pedra seca, os muros de divisão (muito utilizado na separação do espaço público e espaço privado), os muros guia (localizados maioritariamente junto às estradas nacionais, regionais ou municipais, caracterizados por uma altura muito inferior ao normal, servindo de remate da via pública) e os muros de suporte (associados à inclinação de encostas, servindo de suporte). Estas construções estão assentes em seco e mesmo não sendo visível de forma imediata, estão em constante movimento devido à agitação do solo, à variação da temperatura, aos efeitos de erosão e por vezes aos fluxos de água no subsolo, muitos são os fatores que podem contribuir para a degradação dos muros. Se antigamente estes muros eram mantidos apenas através do trabalho de encaixe, atualmente, os muros são mantidos e até construídos com algum suporte, por vezes de argamassa e outros ligamentos.

Os sistemas de rega tradicionais advinham de processos de aproveitamento de nascentes naturais quando estas se localizavam em locais mais elevados que os campos, de modo a criar uma poça, ou a partir de represas do rio Vouga. A partir destes reservatórios, era encaminhada para os campos com uma regadeira. Para retirar a água dos poços era utilizado um engenho com uma nora (puxada por animais) ou uma picota (a força humana) a buscar água, para produções mais reduzidas, habitualmente recolhia-se água das fontes com um cântaro. Depois, com uma enxada escavava-se os caminhos para água seguir para os campos. Já nos sistemas de rega mais avançados, os caleiros de pedra levavam a água, desviada do seu curso habitual, para zonas que funcionavam como pequenas represas, para depois serem guiadas por estas estruturas de pedra até às plantações.

Devido ao abandono da agricultura, estes modos mais rudimentares de rega foram caindo em obsolescência, e a proporção da superfície irrigável na SAU foi diminuindo ao longo dos últimos anos.

Não obstante, quase todas as explorações têm disponibilidade de rega, em larga maioria apenas com um sistema de rega individual, uma vez que os sistemas coletivos privados vêm sendo cada vez menos comuns.

Seguramente que não era apenas na agricultura que era necessário o armazenamento e uso da água. Sendo um bem tão essencial a diversas atividades da vida quotidiana, a água servia para os usos domésticos, para beber, cozinhar, lavar e para os animais. Recuando a uma época em que as habitações rurais não possuíam acesso a água canalizada, era nas várias fontes e chafarizes que se recolhia a água necessária para as atividades diárias.

Entre as várias estruturas relacionadas com a condução da água até à população podem-se destacar as fontes e chafarizes. Estes dois tipos de construção fazem o abastecimento de água, regra geral, de forma contínua por uma ou mais bicas. O que os distingue é o facto de os chafarizes possuírem, habitualmente, maior número de bicas, maior preparação arquitetónica e um número de tanques a diversos níveis (para diferenciar a águas das pessoas e animais).

Presentes na maioria dos chafarizes e fontes são alguns bancos para o descanso da viagem, que por vezes podia ser longa, e enquanto se aguardava na fila para encher as vasilhas e os cântaros.

Estes espaços desempenhavam ainda uma função social, na medida em que grupos de jovens se juntavam a caminho da fonte, ou enquanto esperavam na fila pela sua vez, nascendo aí amizades e namoricos. Certas vezes, as mulheres para poderem ir ao encontro com os namorados diziam aos pais que iam buscar água à fonte como forma de garantir algum tempo de namorico. Junto à fonte de Casal Gozo, ainda hoje permanece o “banco dos namorados”.

Nalguns casos, quando se situavam junto às povoações, as fontes eram apetrechadas de um lavadouro público, alargando este tipo de infraestrutura para outros usos, como a possibilidade de lavar roupas e tapetes.

Os tanques são estruturas de pedra, normalmente associadas a um chafariz, fonte ou lavadouro. Armazenavam a água para os usos de consumo dos animais, para a lavagem da roupa ou para usos na agricultura.

Os lavadouros públicos são infraestruturas ainda existentes em muitas freguesias, surgiram em meados do século XX com a finalidade de dar resposta a necessidades básicas da população. A distribuição domiciliária de água era escassa e a roupa e outros bens materiais eram lavados em rios, ribeiras e riachos, com o surgimento de lavadouros foram criados sítios adequado para estas finalidades.

Os lavadouros comunitários localizam-se em espaço público, normalmente protegidos por uma cobertura, podem ter vários formatos e tamanhos, mas todos têm em comum um ou vários tanques de grandes ou pequenas dimensões em pedra, tijolo ou argamassa, com as lajes para esfregar e bater a roupa. Em alguns sítios estão localizados estrategicamente, com dois tanques, um de “lavagem” e outro de “passagem” e as águas que saiam destes tanques poderiam ser aproveitadas para rega ou levada pelas pessoas para uso doméstico (Lavadouros Públicos, 2015).

Era um local dedicado às mulheres, que lavavam a roupa em pé junto aos tanques e daqui saiam muitos momentos de trabalho e de convívio, muitas histórias eram contadas e muitas músicas eram cantadas.

Atualmente, com o surgimento de máquinas de lavar e com uma rede de infraestruturas de água e saneamento bem planeada nas freguesias, estes locais deixaram de ser tão frequentados, ainda assim, nas povoações de Lordosa ainda são utilizados de forma espontânea pelos seus habitantes.

Os dias de hoje, com caminhos alcatroados e distâncias curtas entre as povoações da freguesia e os territórios da envolvente – nomeadamente a cidade de Viseu –, contrastam bem aquilo que, há poucas décadas, se vivia sobretudo no contexto rural.

Recuemos ao séc. XX, onde as acessibilidades eram rudimentares e uma ida à cidade acontecia com pouca regularidade e demorava bastante tempo, principalmente no inverno, quando os caminhos em terra se apresentavam em piores condições.
Recuemos ainda mais, à época em que não existiam pontes a fazer o cruzamento das linhas de água, quando as poldras – blocos de granito dispostos em linha entre as duas margens – eram a única forma de atravessar o leito de um rio ou ribeira, sem que a pessoa saísse toda encharcada. Por elas passavam não só pessoas, mas também animais. Nas imagens apresentadas é possível observar poldras em Galifonge e Sanguinhedo de Maçãs de passagem a pé e para a passagem dos carros de bois, sobre o Vouga. Em tempos mais recentes são também usadas no processo de produção do linho, para bater as meadas depois de lavadas.

As pontes romanas são estruturas que se integravam sobretudo nos grandes eixos viários entre as povoações do antigo império, foram sendo edificadas até ao extremo da Lusitânia e caracterizavam-se sobretudo pela solidez, pela simetria e pela imponência, sendo construídas com um uma técnica cuidada do granito, ao contrário das pontes do seguinte período medieval, que habitualmente eram feitas de madeira (Carriço, 2015). A ponte romana possui o seu estilo característico dos arcos, sendo que, em virtude da sua degradação, tem sofrido ao longo dos anos várias intervenções para evitar a sua estrutura de ruir.

Esta ponte situa-se no extremo noroeste da freguesia, a norte da povoação de Galifonge e faz a ligação desta localidade, sobre o rio Vouga, com a povoação de Paraduça, já vizinha na freguesia de Calde.

Na freguesia ainda são visíveis marcas do tempo romano muito importante em todo o concelho. Exemplo disso é o troço que passa em Pousa Maria, classificado como imóvel de interesse público, com cerca de 600 metros de comprimento.

“Já no período romano, séculos II e I AC, toda esta região, após o assassinato de Viriato em 139 AC, foi sendo ocupada pelos invasores que por cá instalaram o seu poder, introduziram os seus costumes e iniciaram o que os historiadores chamam de romanização, e todas estas terras teriam formado a villa de algum patrício romano (…) A estrada romana saía d junto da Cava do Viriato, em Viseu, passava por Abraveses, Lageosa, Pousa Maria e Almargem” (Rouxinol, 2002, p.7)

Localizada em zona florestal de pinheiro-bravo, esta via, em tempos do Império Romano, permitia que se assegurasse uma ligação permanente e célere entre os principais centros populacionais de Viseu a Astorga e a Braga, sendo uma das sete vias que saíam de Viseu. Segue pela colina, num percurso sinuoso, e termina na elevação que foi cortada para a execução da EN 2. Possui o lajeado apenas nas zonas de maior declive, onde era mais difícil ter aderência durante períodos de chuva.

Segundo a Direção-Geral do Património Cultural, pode-se encontrar em Lordosa um vasto número de sítios arqueológicos. A tipologia do seu interesse arqueológico está associada a necrópoles, como antas (neolítico final/calcolítico – aproximadamente 3300 a 1200 a.C.) e sepulturas (Alta Idade Média – 476 a 1000 d.C.) e a arte rupestre, que são autênticos marcos históricos desta freguesia.

As necrópoles (do grego νεκρόπολις, “cidade dos mortos”) são lugares designados para enterrar os mortos, incluindo práticas de inumação ou cremação, normalmente surgem em locais destacados, envolventes das aldeias.

As mamoas são colinas artificiais, de rochas cobertas por terras e que têm como objetivo cobrir uma estrutura funerária (antas), fazendo então parte da composição deste monumento megalítico. Em Lordosa podem-se encontrar, segundo o Portal do Arqueólogo, seis estruturas que se creem ser deste tipo de monumentos, contudo, na sua maioria com um denso coberto arbustivo, que não facilita a sua medição e observação. Entre as mais visíveis é de destacar o monumento megalítico de Corgas, datado do neolítico final/calcolítico, onde se pode visualizar um esteio da câmara da anta com 120cm de altura, sendo que 20cm estão cobertos por caruma no solo. O esteio contém uma inscrição de um “R”, sendo, porém, uma inscrição bastante posterior ao seu uso inicial como necrópole, e provavelmente uma forma de utilização posterior dada ao esteio para fazer a divisão entre terrenos. A anta encontra-se muito destruída, mas seria composta por uma câmara com esteios de granito encontrando-se “in situ”, é possível verificar no terreno vestígios da delimitação da câmara (descrita no Portal do Arqueólogo como “depressão central”.

Outro tipo de sítio arqueológico, que tem uma distância cronológica entre 4300 a 1700 anos das antas, são as sepulturas da Alta Idade Média em Portugal, período iniciado após a queda do Império Romano do Ocidente. Em Lordosa pode-se encontrar três lugares de necrópoles deste tipo: um túmulo isolado, e duas necrópoles de duas e três campas (Pousa Maria e Galifonge). Destas destaca-se a necrópole situada a sudoeste da aldeia de Pousa Maria. Encontravam-se nessa encosta um conjunto de três sepulturas escavadas na rocha, datando da Alta Idade Média. Atualmente apenas se podem encontrar duas destas sepulturas, dado que uma foi destruída. As duas restantes, uma delas antropomórfica com a cabeceira em arco de volta perfeita (com 173cm de comprimento e 49cm de largura máxima) e a outra ovalada (172cm de comprimento e 47cm de largura máxima). Num estudo do IPA – Viseu, em 2006, verificou-se que as duas sepulturas se encontram numa propriedade privada, num afloramento coberto de silvas, em bom estado de conservação (DGPC, 2022). Este local de interesse arqueológico situa-se a cerca de 500 metros a oeste de outro, o troço da Via romana que ligava Viseu a Castro Daire, passando de Pousa Maria para o Almargem, pelo rio Vouga (Marques, 2000).

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