Nas danças e cantares populares pode-se encontrar a “sabedoria do povo”, agora preservados pelo trabalho das associações folclóricas, antes, estas formas de entretenimento faziam parte da vida da população. Muito influenciadas por duas atividades, a religiosa, dado que a Igreja à época era a entidade que pautava a vida cultural e até social dos fregueses, surgindo durante as romarias e outras festividades religiosas, dos mais variados cantares sobre a espiritualidade; e a agricultura, atividade que ocupava o quotidiano da população e durante a qual, até muito para ocupar o tempo, se entoavam cantares em grupo. Além disso também se cantava sobre os amores.
Por tudo se cantava: para adormecer os filhos, durante a lavoura, na romaria, nas festas, aos domingos, e enquanto se dança.
Relativamente a cantares e sobre a própria freguesia, os habitantes relembram as seguintes letras:
“(…) Galifonge, no fundo da freguesia, um pouco acima Paçô onde reina a alegria, Lordosa é e continua a ser o lugar mais lindo para se viver, para se viver (…?) Lordosa nossa freguesia, Sanguinhedo muito alegre bebe no rio a alegria, a caminho da igreja passa por Pousa Maria, Lageosa e Folgosa e Quintãs não é para acabar, belas quintas do Salgueiro, Vilarinhos e Vilar.”;
“A minha terra é o Rio Vouga, o meu amor é a moleira, meu coração é o trigo, é movido na boa (…?)”
Relacionados com as danças e cantares, há também os cantares agrícolas, os repertórios dos ranchos, os instrumentos musicais utilizados, as danças, o fado beirão, a desgarrada e os trajes que se usam nos momentos de apresentação pública.
Explore os diferentes tipos danças de cantares presentes na história de Lordosa.
Os cantares agrícolas fazem parte do entretenimento do dia a dia da população de Lordosa. Era durante várias situações e tipos de trabalhos agrícolas como as desfolhadas e malhadas do milho, assim como nas espadeladas, fiadas e dobadas de linho que homens e mulheres entoavam em conjunto os cantares próprios deste tipo de atividades.
Embora muitas das vezes se cantasse sem o som de algum instrumento, para eventos de celebração, como em festas e romarias, os instrumentos musicais eram essenciais para acompanhar as danças e cantares, os habitantes recordam-se do uso da guitarra, do bandolim e do acordeão.
O bandolim é um instrumento musical de cordas, com formato de pera, que possui oito cordas, agrupadas duas a duas. Surgido na Itália, foi importado para a cultura portuguesa ao longo dos séc. XVIII e XIX. Até ao séc. XX muito apreciado pela classe burguesa, veio a tornar-se mais popular e fora introduzido na cultura popular, sendo um instrumento característico em diversas festividades da cultura popular portuguesa (Melícias, 2022).
O acordeão é um instrumento musical de teclas, composto por um fole, um diapasão e duas caixas harmónicas de madeira. Este instrumento de origem alemã tornou-se muito popular por toda a Europa por ser bastante simples de aprender a tocar e a facilidade de transporte, por ser leve. Tornou-se tão popular que os bailes chegavam a ser feitos só com o acordeão, substituindo a viola. Era um instrumento também bastante utilizado nas romarias e peregrinações, ou a acompanhar uma qualquer dança (Reis, 2005) (Melícias, 2022).
A forma como as danças chegavam ao concelho de Viseu era também a partir de migrações internas da população residente, quando iam fazer trabalhos para outras regiões do país, ao voltar, ensinavam aos conterrâneos o que tinham aprendido a trabalhar e a conviver noutras terras. Entre estas algumas das danças que mais se fazia nesta região era os jogos de roda. Muitas vezes através desta dança os rapazes galanteavam as raparigas, os passos são simples e repetem várias vezes as marcações base de roda e abraço.
Originária de outras regiões, também em Viseu se dançava a Chula, em feiras, romarias, nas vindimas, nos lagares e nas desfolhadas, espadeladas do linho. Qualquer pretexto era razão para puxar da concertina e da viola e começar a dançar.
Também se dançava o Fandango e o Vira. Sempre com as adaptações introduzidas pelas mentes mais esquecidas ou simplesmente como as gentes da freguesia a preferissem dançar.
O fado beirão regista muitas influências de temas da agricultura e da vida social rural. Integra instrumentos como o acordeão.
A desgarrada é uma tradição de cantigas populares muito ligada à atividade da desfolhada do milho, de festas e romarias, à vindima. Com instrumentos como o acordeão e a gaita de beiços, quem participa na desgarrada improvisa umas rimas sobre temas como o amor, a fé ou a amizade e a vida, enquanto toca, e caso seja a desafio, podendo recorrer a dizeres gracejar, escarnecer e de maldizer sobre o “adversário”, que depois tem a hipótese de responder, sempre sob a forma de rima, e assim se soltam uns risos à multidão que assiste com entusiasmo (Cabral, 1998).
Como já se viu, era a partir do trabalho na agricultura e pastorícia que se arranjava o sustento das famílias de Lordosa, nos trajes que vestiam não era história diferente. Tradicionalmente era a partir das matérias-primas mais à disposição que se faziam os trajes, o cultivo do linho, e a lã das ovelhas para vestimentas em lã e burel.
Do linho produzia-se a maior parte do vestuário feminino, como blusas, camisas, corpetes, aventais, saias, saiotes, e as camisas dos homens e as ceroulas para as estações quentes.
Da lã e burel produzia-se as capas, capuchas, mandis, saias, meias, luvas, calças, coletes, jaquetas, cintas e barretes. Destes, a capucha era das peças mais características, especialmente para as mulheres, dizia-se que uma capucha devia durar pelo menos uma vida. Largamente utilizada no concelho de Viseu, a capucha, redonda e preta, ao longo dos tempos foi se adaptando para um capelo mais bicudo e de cor acastanhada, em Lordosa. Esta peça lograva por sua polivalência, fazendo de boa e cómoda almofada para se levar ao ombro a canastra, lenha ou fardos de palha, fazendo de sacola, atando as pontas para o transporte de cereais ou hortaliças; para carregar uma criança junto ao peito; para servir de toalha onde se pusesse a secar um cereal ou para comer determinada refeição; de resguardo para as chuvas, neve e granizo.
Além da produção dos tecidos caseiros, para os trajes do dia-a-dia, para as ocasiões especiais encontravam-se nas feiras trajes próprios para o fato de casamento, para utilizar na romaria ou noutra festividade importante.
Para as senhoras, o fato de casamento ficava bem guardado num baú, apenas utilizado nas cerimónias mais importantes como da Semana Santa, ou num funeral de um ente querido. Para as romarias e festas a preocupação também era maior, adicionando-se alguns adereços como as arrecadas (brincos), moedas pendentes (colares), e cordões. A saia das senhoras utilizava-se até ao tornozelo e as blusas até ao pescoço. Para os tempos mais frios, além da capucha, o xaile e o mandil. Os pés habitualmente andavam descalços, contudo para a missa ou outra cerimónia, usavam-se chinelas ou tamancos.
Os homens usavam camisas de linho, calças de estopa, seriguilha, surrobeco, cotim ou burel, e para o casamento fato preto. Para os pés, habitualmente descalço ou um tamanco ou soco, e botas para os mais abastados.